O GIALLO DO BIA

A Narrativa da semana é o prólogo de O CRIME NO EDIFÍCIO GIALLO, policial inédito de Luiz Biajoni, que faz homenagem ao gênero de romances e filmes italianos conhecido por “giallo”. Na trama, um homem negro, gay, rico e sofisticado se muda para um edifício de alto padrão, desestabilizando a suposta ordem do local. Na sequência, um crime e mais outro levam a suspeitas que podem ter raízes em esferas sobrenaturais.

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Duas pessoas tentavam vencer o canteiro de obras na rua defronte ao Edifício Giallo, onde o Departamento Municipal de Saneamento trocava a tubulação de abastecimento do prédio. Uma mulher morena e alta e um rapazote loiro caminhavam por tábuas e ilhas de asfalto quebrado almejando alcançar a portaria do edifício. O garoto era mais ágil, calçava tênis e parecia não se importar muito com a lama onde pisava às vezes. A mulher estava bem vestida, com sapatos de salto alto, e tinha receio de se sujar.

Um operário se dispôs a ajudá-la, estendendo a mão – era um homem distinto, alto, de cabelos e olhos negros suaves, com barba bem-feita, e um capacete escrito “chefe”. Ele estava um pouco sujo e suado e a conduziu enquanto um percebia o perfume do outro – ela ia para um encontro com o namorado, que morava no Edifício Giallo; era compreensível que tivesse borrifado um pouco de seu melhor perfume, mas ele estava trabalhando sob o sol forte e era estranho que emanasse aquele cheiro bom. Ela pensou sobre isso brevemente, mas deixou a questão de lado, logo que ganhou a calçada do outro lado. Agradeceu ao homem e digitou a senha para a abertura do portão, enquanto olhava para o loirinho magro que também estava ali. Cumprimentaram-se com um aceno de cabeça e, enquanto ela entrava, pôde ouvi-lo dizer ao porteiro remoto que tinha uma entrega de remédios para o apartamento 121. Alguém certamente desceria para apanhar.

A mulher era a delegada de homicídios Nanete. O rapaz era um órfão que morava em uma casa comunitária na região central e vivia de pequenos bicos e furtos, chamado Jim. Ambos não suspeitavam que fossem se encontrar novamente em breve, ali, no Edifício Giallo, onde um crime brutal aconteceria. E que os moradores do apartamento 121 seriam os principais suspeitos.