ENTREVISTA: BETO LIVREIRO

Adalberto Ribeiro, ou Beto Livreiro, trabalha na charmosa Livraria Simples, no Bixiga, em São Paulo.

VB&M: Qual tem sido para você o maior desafio da quarentena?

BL: Calibrar a ansiedade no limite do possível tem sido o maior desafio pessoal. Não bastassem as dificuldades apresentadas pela pandemia, sobre as quais _ apesar dos pesares (muitos pesares pelas mortes) _ consigo encontrar referências de boas condutas de maneira rápida, acessível e colaborativa, temos de lidar também com a balbúrdia do atual governo sem paralelos no universo das democracias. Isso têm nos perturbado muito, parece que a muita gente. Difícil viver o “presente”_ sintoma de sanidade mental_ com a tensão causada por esse ambiente politicamente instável e economicamente frágil.

VB&M: Quais as propostas e soluções mais interessantes que você pensou ou registrou?

BL: Olha, algumas coisas que estavam sendo elaboradas aos poucos, na base da bola de meia, acabaram nascendo prematuras, mas passam bem, felizmente. Uma delas é o recém-inaugurado site da Livraria Simples, com livros novos e usados, e a outra é a Feira de Troca de Livros virtual (https://www.livrariasimples.com.br/troca-de-livros/). Ambos os projetos estavam sendo desenrolados aos poucos ao longo dos últimos 12 meses, mas acabaram ganhando luz na obscuridade digital da pandemia. Uma ideia que passou pela nossa cabeça foi o compartilhamento, via redes sociais, do acervo de outras livrarias e sebos internacionais, a começar pelos países latino americanos com os quais já flertamos: Livraria de Avila (BsAs), Metales Pesados (Santiago). Existe também uma vontade, agora reprimida, da realização de intercâmbio de mão de obra com essas livrarias, nossos livreiros indo pra lá e os livreiros deles vindo pra cá por uma temporada. São vontades.

VB&M: Qual a sua visão do mercado em 2021?

BL: Pergunta boa e muito difícil de responder. Acredito que pode acontecer um aprofundamento da ideia de consumo consciente, privilegiando o local em detrimento aos grandes conglomerados sem espírito e sem vida que se apropriam do prestígio construído por livrarias para vender livros, sobretudo aquela gigante estadunidense cuja fortuna do dono corresponde ao PIB de vários países num mundo desequilibrado em que ainda se morre de fome. Isso é o que eu espero. Mas também pode acontecer exatamente o contrário: o reforço do consumo desenfreado em grandes plataformas e o aniquilamento de pequenas livrarias.