TUDO COREANO NÃO É MAIS ESTRANHO

Quando um país constrói seu soft-power baseado em investimento educacional, seu prestígio nacional não se esvai numa Olimpíada ou Copa do Mundo: seus produtos culturais passam a ocupar ano a ano mais espaço nas telas, nas prateleiras das livrarias, nas salas de concerto e teatro. É isso que está acontecendo com a Coreia do Sul; sua produção cultural e toda arte que reflete simbolicamente esse país conquistam hoje tanto massas de espectadores de audiovisuais como apreciadores de sua música pop ou erudita e sofisticados leitores em todos os continentes.

Em 2021, foi possível perceber claramente uma nova onda sul-coreana. Nas últimas semanas, o mundo se rendeu à série da Netflix “Squid Game”, ou “Round 6”, título da produção no Brasil. O audiovisual sul-coreano é um fenômeno de 142 milhões de espectadores em um mês. O mero anúncio de um guia não-oficial da série, INTO THE SQUID GAME, de Park Min-Joon, com tudo sobre os bastidores, a produção, o elenco e as referências da narrativa, a sair na Espanha pela Ediciones Duomo, sugou a atenção dos editores internacionais e, antes mesmo da apresentação do texto, o livro foi vendido para tradução na Itália, Polônia e no Brasil.

A experiência da vida na Coreia do Sul assim como a diáspora coreana despertam interesse literário. Investigando não mais do que o catálogo de lançamentos representados pela VB&M para o mercado brasileiro, além de INTO THE SQUID GAME, encontram-se três livros fascinantes e de altíssima qualidade _ um misto de ensaio e autobiografia familiar, um romance e uma coleta de contos.

Do catálogo da Feminist Press, o livro que fica entre o ensaio social e político e memórias afetivas e gastronômicas, TASTES LIKE WAR, da socióloga Grace M. Cho, brilha entre os finalistas do National Book Award deste ano na categoria de Não-Ficção. Publicado em maio, o livro foi tema desta coluna no início do mês e relata a busca da autora pelo resgate da memória da mãe esquizofrênica através da culinária tradicional coreana. Filha de mãe coreana e pai americano, a ensaísta Cho é capaz de dissecar a experiência da guerra na Coreia com lancinante sensibilidade

YOUR/NAME, romance de estreia da coreana-americana Esther Yi, de 29 anos, a sair em 2023 por uma nova e já forte editora literária, a Astra House, foi vendido para Europa Editions, na Grã-Bretanha, e Edizioni E/O, na Itália, com base em um texto substantivo, mas ainda parcial. O texto final será entregue dentro de um mês. O livro revela uma jovem coreana vivendo em Berlim, onde se torna fã de um jovem que integra uma boy band de K-pop. Sua obsessão a leva em uma viagem vertiginosa e distópica de volta a Seul, e a narrativa explora as implicações políticas do fandom e a tensão entre o público e o privado na cultura pop.

Nascida na Coréia do Sul e naturalizada americana, Yoon Choi estreou na literatur com a coleção de contos SKINSHIP, publicada em agosto pela Knopf. Por meio dos protagonistas únicos de cada história — músicos, donas de casa, pastores, crianças, avós e donos de lavanderias e mercearias —, a autora explora conflitos geracionais e linguísticos e faz um retrato da experiência individual e coletiva dos imigrantes coreanos nos Estados Unidos.