Yasmin Ribeiro
Uma das mentes políticas mais influentes do século XX, Hannah Arendt é conhecida por sua vasta contribuição para a filosofia ocidental, mas pouco se sabe sobre sua vida pessoal. AO QUE PARECE (Was Wir Scheinen), primeiro romance biográfico sobre a filósofa alemã, assinado pela autora, cineasta e crítica literária suíça Hildegard E. Keller, traz a público o lado humano de uma personalidade que se manteve discreta e enigmática ao longo de toda a vida.
Lançado na Alemanha pela Eichborn em fevereiro, o romance de Keller, retrato vívido do espírito e da essência de Arendt, teve ótima recepção da mídia alemã e suíça, e os direitos árabes mundiais foram vendidos para a editora egípcia Sefsafa. Acaba de sair a notícia do apoio da fundação suíça ProHelvetia, que cobrirá os custos de tradução de todas as edições estrangeiras e certamente impulsionará as vendas internacionais.
Estreia de Hildegard E. Keller na ficção, a narrativa mergulha nos principais anos da carreira de Hannah Arendt, desde sua fuga da Alemanha nazista em 1941, passando por Paris e Lisboa até chegar a Nova York, onde se firmou como autora com seus livros sobre o totalitarismo. Em 1961, ela conseguiu a cidadania americana e foi enviada a Jerusalém pela revista “New Yorker” para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann, peça-chave do Holocausto, o que resultou na formulação do conceito da banalidade do mal em sua obra mais controversa.
Com a liberdade da ficção, Hildegard E. Keller apresenta uma mulher de ideias densas e complexas, altamente iluminadoras de fenômenos sociais e filosóficos, mas também rica em emoções, humor e perspicácia nas relações entre as pessoas. “Os monólogos internos e as reminiscências de Arendt levam o leitor numa sofisticada jornada da mente através do universo de sua produção filosófica,” comentou o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung em sua crítica. Para o periódico alemão Literaturkritik, Keller “foi bem sucedida ao criar um retrato sensível de uma pensadora […] e é por isso que o livro irradia autenticidade e demonstra sua força.”
Graças à pesquisa meticulosa, que embasa o romance, e à sensibilidade de Keller, o livro apresenta as ideias da filósofa Arendt e sua busca pela independência e liberdade, enquanto retrata também o cotidiano da Hannah amiga, esposa, amante, viúva e refugiada. Grande romance em torno de uma grande mulher que agrada a leitoras e leitores.