Com os direitos de adaptação audiovisual de dois romances recém-vendidos para a Galeria Filmes, PECADORA (Planeta) e ALÉM DO OLHAR (Amazon), mais centenas de milhares de livros digitais ou em papel lidos e relidos avidamente por seu público apaixonado, Nana Pauvolih é o grande nome da literatura erótica brasileira. Na coluna de Entrevistas do blog VB&M, ela discorre sobre as possibilidades eróticas durante a pandemia e em situação de isolamento social, defende que para o sexo e o prazer _ em qualquer tempo _ não pode haver tabu e desenvolve ideias sobre o potencial orgíaco do Zoom e outros aplicativos.
VB&M: A Covid-19 e o isolamento social criam obstáculos ou incentivos à literatura erótica?
NP: A literatura erótica sempre tem muita procura, principalmente entre as mulheres. Com o isolamento social, essa procura aumentou muito. Percebi isso com o lançamento de uma duologia chamada ÓDIO e AMOR, que publiquei pela Amazon em pleno período de pandemia. As vendas são extraordinárias, e o retorno dos leitores, muito positivo. Recebi relatos de leitoras dizendo que tiveram que interromper a leitura dos livros para pôr em prática com os parceiros, retomando depois. Acredito também que o isolamento crie mais intensidade nos sentimentos e relações e que isso acabe refletindo nos romances eróticos.
VB&M: O que é tabu na criação erótica em tempos de pandemia? Há algo de extremo mau-gosto a ser evitado a todo custo pelos autores?
NP: Eu não gosto de tabus, por isso acho difícil responder. Dentro do erotismo acredito que tudo que dá prazer e faz bem para uma pessoa deve ser explorado, sentido, vivido ao máximo. Sempre respeitei o ser humano e suas necessidades, anseios, desejos. O proibido pode ser desejado, principalmente no âmbito das fantasias. Então, para mim, no universo erótico no qual trabalho, não há tabu e sim liberdade. Vale o respeito à sensibilidade e ao bom senso.
VB&M: Você acredita que orgias pelo Zoom ou outro aplicativo têm potencial como matéria de literatura?
NP: Sim! Muito potencial! Em tempos de distanciamento social a libido continua existindo e pode até se tornar mais intensa em alguns períodos. A escassez leva à procura, não é? Então a saída poderia ser a busca pela libertação sexual, pelo prazer e até pelo envolvimento ou aventura utilizando aplicativos e se aproveitando da distância física. Já é algo presente no cotidiano de muitas pessoas e só aumenta com a pandemia. Conversas e trocas de mensagens no Zoom e em diversos outros aplicativos podem expandir essa nova normalidade para a sexualidade. E isso pode ser explorado pela literatura como interação, de diversas formas. Acho até que ler romances eróticos é meio parecido, um prazer sem contato real, tudo por meio de imaginação, de diálogos e imagens formadas. A leitura pode até ser feita a dois. A diferença do aplicativo é envolver diretamente duas ou mais pessoas reais, não personagens, mas se trata sempre de fantasiar um emaranhado de relações e possibilidades – também riscos e perigos. Para a mulher, o risco da exposição é grande quando se usa o aplicativo, mas pelo menos não há a possibilidade da perda do controle de sua integridade física. O prazer tem que ser o foco e a solução dos desejos prementes.
VB&M: Você por acaso está escrevendo algo nessa linha? Parece-nos que seria muito interessante…
NP: Já usei um pouco disso no meu livro PECADORA, em que os personagens se envolvem sexual e emocionalmente primeiro por trocas de mensagens sem identidade, depois passam para algo mais íntimo na vida presencial. Essas orgias por aplicativos podem ser libertadoras, passageiras, profundas, gerar perda de interesse depois de algum tempo ou seguir como saída para as necessidades ou até a solidão. Há cerca de alguns meses, antes mesmo da pandemia, comecei uma série erótica voltada para orgias e desejos secretos – a Série Fetiche. O primeiro livro já foi lançado, chama-se AQUELE HOMEM e explora o universo do vício em sexo, da hiper-sexualidade. O segundo livro, que retrata um pouco do interior do Pará e a floresta amazônica, RIO EM CHAMAS, explora o desejo beirando o perigo entre pessoas de classes sociais e vivências totalmente diferentes. Será lançado em breve. O terceiro da série, intitulado VORAZ, é exatamente sobre orgias em aplicativos, levadas para a vida real. Orgias com desconhecidos encontrados na internet. O lançamento previsto é para o final do ano.