PARA COMBATER A MASCULINIDADE TÓXICA

Miguel Sader

A literatura, como qualquer manifestação artística, é um reflexo de seu tempo e da sociedade em que está inserida. Tanto na ficção como na não-ficção, é comum que as pautas levantadas pelos livros reflitam os grandes debates que acontecem nas ruas, nas redes sociais, nas faculdades ou nas mesas de bar. Experimente entrar numa livraria e reparar nas estantes de destaques e lançamentos. Lá estarão livros que abordam – além da interminável pandemia de Covid19 – questões raciais, de gênero, de sexualidade.

É nesse contexto que chama atenção uma redescoberta literária feita pela editora norte-americana Sourcebooks. Em 2006, o professor e ativista Jackson Katz escreveu THE MACHO PARADOX para jogar uma luz diferente no debate sobre violência contra a mulher. Seu intuito era trazer os homens para uma discussão em que até então mulheres falavam sozinhas e carregavam sozinhas a responsabilidade de combater tal tipo de violência. O resultado foi um ensaio riquíssimo e pioneiro sobre um tema que, 15 anos depois, está na ordem do dia: masculinidade tóxica. Repaginado e atualizado com todas as principais pautas do debate sobre violência de gênero, O PARADOXO DO MACHO ganha em 2021 uma nova edição da Sourcebooks.

Katz é reconhecido pelo seu trabalho de conscientização sobretudo com jovens nos esportes e nas Forças Armadas, talvez as duas trincheiras mais impenetráveis de uma masculinidade viril e retrógrada. Seus estudos sobre machismo e masculinidade são notáveis e muito respeitados pela comunidade acadêmica norte-americana.

Com O PARADOXO DO MACHO, Katz tenta romper o muro das universidades para levar sua mensagem ao grande público. Mas há ainda outra barreira a ser derrubada, talvez ainda mais resistente, para que ele atinja seu público-alvo, o leitor homem. É sabido que a literatura feminista hoje é consumida majoritariamente por mulheres. Convidar os homens a se olharem no espelho, assumindo responsabilidades e deveres na luta pela igualdade de gênero, é tarefa tão necessária quanto árdua. Mais do que um convite, trata-se de uma convocação, que deve contar com o empenho das mulheres para ser atendida.