Quem foi jovem ou adulto nos anos 70 e 80 e não se solidarizou com a luta justa e corajosa dos guerrilheiros sandinistas, na Nicarágua? Quem não vibrou com a vitória da Frente de Libertação Nacional em 1979 sobre as forças truculentas do ditador Anastasio Somoza, que por décadas vinham castigando os nicaraguenses? No governo ainda hoje, os sandinistas encarnam mais uma das traições da história, e em 2021 essa tragédia latino-americana ganhou sua tradução em um romance profundo como a dor que causa ao continente.
Incluído entre as 25 melhores vozes literárias da língua espanhola em todo o mundo pela prestigiosa revista Granta, o nicaraguense José Adiak Montoya, de 34 anos, lançou em maio pela Seix Barral O PAÍS DAS RUAS SEM NOME (“El país de las calles sin nombre”, no original). O romance descreve a ruína nicaraguense por meio da trajetória de Alice, que volta à terra natal para resgatar uma pequena herança e encontra uma nação afligida sob o governo brutal da Junta sandinista.
Passando por tiroteios, barricadas e chacinas, a protagonista chega à casa da avó, onde viveu parte da infância, e descobre a verdade sobre sua família e o passado político do pai, que lutara na guerrilha. Em O PAÍS DAS RUAS SEM NOME, a Nicarágua é um país que – como tantos vizinhos no continente – parece fadado a repetir seus erros. Com a vocação de ser dominada por tiranos, exibe com crueza o destino latino-americano de sonhos revolucionários que não ultrapassam a condição de utopias inalcançáveis.
“Nós estávamos procurando por originalidade, por pessoas que estão criando narrativas sem seguir qualquer tipo de tendência,” disse a editora e escritora americana Valerie Miles, fundadora da Granta, que preparou a lista de melhores autores de língua espanhola. Adiak estreou no romance em 2013 com EL SÓTANO DEL ÁNGEL (Oceano) e, em 2015, venceu o III Prêmio Centroamericano Carátula de Conto. No ano seguinte, foi classificado pela Feira Internacional do Livro de Guadalajara como um dos escritores latinoamericanos mais notáveis nascidos nos anos 1980 — os “Ochenteros”. Em toda a sua obra, já comparada à de Charles Dickens, Elsa Morante e Gabriel García Márquez, é possível notar tanto o trabalho artesanal na construção da narrativa quanto a ambição atenta do romancista que expõe ao mundo a falência dos ideais políticos de muitas gerações.