Há anos vinha adiando a leitura do romance “Silêncio”, de Shusaku Endo, um escritor católico num país de minoria cristã. O interesse em lê-lo aumentou quando Martin Scorsese o levou para as telas em 2016. Em fevereiro deste ano, olhando as prateleiras da livraria Martins Fontes em São Paulo, vi o livro. Então decidi que não podia adiar mais. Acabei de lê-lo.
Dos autores japoneses, o meu preferido é Natsume Soseki, principal escritor do período Meiji, quando o Japão abre as portas para as influências do Ocidente. E é sobre essa fase que ele escreve. Interessou-me em “Silêncio” a incursão de Shusaku Endo num período anterior (século XVII), quando o país ainda era fechado. Gostei tanto do romance desde o início que logo procurei outro do autor e comprei o e-book “Escândalo”. Lia o “Silêncio” no livro físico e o “Escândalo” no Kindle. A narrativa do segundo não tem a musculatura do primeiro, que envolve o leitor pelo interesse que vai criando sobre a perseguição sofrida pelos católicos no Japão daquele período, pelo destino do padre protagonista e, principalmente, pela reflexão a que ele (o leitor) é levado sobre a fé.
A edição de ‘Silêncio” que eu li, da Tusquets, tem um dos prefácios assinado por Martin Scorsese em 2007, quando a adaptação cinematográfica ainda era uma ideia. Nele, o cineasta diz que Endo tinha dificuldades para conciliar a fé católica com a cultura japonesa, tema do romance. E esse tema diz muito para mim, que aprendi, quando ainda era criança, a rezar o pai nosso e a juntar as mãos diante do butsudan para cultuar os antepassados. Mas “Silêncio” diz algo a todos que vivem contradições e angústias, o que faz dele um romance universal.
Oscar Nakasato é autor de DOIS e NIHONJIN, vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance em 2011.