O último colaborador do ano a compartilhar conosco O Que Está Lendo é Claudinei Roncolatto, coronel da reserva, escritor e amigo da agência. Mergulhado no clima natalino, Claudinei divide sua leitura de A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO (Companhia das Letras), de Martha Batalha, romance queridinho da VB&M.
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Se sou um leitor assíduo, estou longe de tornar-me um devorador de livros. Vou degustando, sem pressa, quase sempre mais de um livro por vez. Assim foi com os últimos que li ou reli: “O nome da rosa”, de Umberto Eco; “Angústia”, de Graciliano Ramos;” Ensaio sobre a lucidez”, de Saramago; “A odisseia”, de Homero; “Livro do desassossego”, de Fernando Pessoa; sobre os quais muito ou tudo já se disse. Mas a minha maneira de me relacionar com os textos pode sofrer mudanças repentinas. Quando? Não consigo parar a leitura, sigo voraz, quando me deparo com livros que cuidam de relacionamentos familiares, suas grandiosidades e misérias, como escreve Francisco Azevedo. Mais ainda quando figuras femininas se revelam, recheadas de poder e humanismo camuflados muitas vezes por aparente fragilidade. Imersão humanística que persigo, com a esperança de algum sucesso, em livros que escrevo, como os que serão lançados ainda neste mês de dezembro pela Giostri Editora: “Cuidado com o cão” e “A guerra encantada”. Perdoem-me, por favor, a autopromoção.
A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO é desses livros. Sopra certa brisa machadiana, modernizada, no que Martha Batalha escreve. Uma autora de talento nada invisível, com grande força narrativa. Ironia afiada, humor despachado e cáustico, compaixão. Crônica de costumes com histórias que se entrelaçam e irremediavelmente nos enlaçam. Que permite a nós homens mergulhar no universo das mulheres, sem chegar ao fundo entretanto. Sim, fico a imaginar até conhecê-las, minha vida é povoada delas – mãe, esposa, duas irmãs, duas filhas, neta –, para então descobrir que pensei errado. Ao homem não é fácil penetrar no universo feminino, multifacetado e transbordante, superior. Martha pintou uma Eurídice que, se não a posso compreender por completo, não há como deixar de amá-la. Estamos, sim, diante de um romance humano e brilhante, dos chamados imperdíveis. À Eurídice e sua criadora, toda a minha admiração e afeto. Feliz Natal a todos!