Autor do romance TERRA INCÓGNITA (inédito) e tradutor residente nos EUA, Edgar Garbelotto indica no blog os romances “Weather” (Knopf), da escritora americana Jenny Offill, e “Threshold” (Bloomsbury), do irlandês Rob Doyle.
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Durante o longo inverno pândemico ianque, li dois livros que me surpreenderam com sua força temática e narrativa. Em “Weather” (Knopf), da escritora americana Jenny Offill, Lizzie, a narradora e personagem principal, uma bibliotecária e part-time psicóloga, discorre em narrativa filosófica um mix extradordinário de sentimentos e humor negro. Com um liricismo ímpar, a autora cobre uma gama rica de disciplinas: da ecologia à teologia às políticas de ação coletiva, passando pelas atuais crises da família, do país e de um mundo que se aproxima do fim. A compressão e intensidade narrativa de Offill é um bálsamo fresco para a nova fiçcão norte-america.
Em “Threshold” (Bloomsbury), do irlândes Rob Doyle, a auto-ficção a la Knausgaard serve como moldura narrativa para digressões do autor sobre o que significa ser escritor no cenário global contemporâneo. Parte diário de viagens, parte crise da meia idade, o romance discorre, por meio de seu autor-narrador-personagem, sobre suas aventuras no mundo da drogas e clubes noturnos em busca da próxima verdade ou emoção. A eterna questão do sentido transcedental da existência permeia a narrativa confessional e honesta do romance. O resultado é uma celebração profunda da arte, do sexo e desejo de viver, dos limites do pensamento e dos extremos das sensações humanas.