Luciana Villas-Boas
Surfando as listas de best-sellers e de melhores lançamentos, o celebrado autor de thrillers de tribunal, Scott Turow, conseguiu com seu último livro, THE LAST TRIAL (O ÚLTIMO JULGAMENTO), publicado em abril/maio nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, subir vários degraus da íngreme escada da consagração literária. Os elogios da crítica literária mais rigorosa são unânimes, e o tradicional jornal The Times, de Londres, chegou a comparar o Turow de THE LAST TRIAL aos gigantes da literatura judaico-americana Philip Roth e Saul Below, este ganhador do Nobel.
As carreiras literárias em geral surpreendem, dão guinadas na direção oposta do que pretendia o autor. Scott Turow sempre foi mais do que um escritor de thrillers vendedores. Sua editora original era a literária e refinada Farrar Strauss & Giroux, mas a crítica nunca aceitou dar a ele o devido mérito como criador de alta literatura. Turow, que, além de escrever divinamente, conhece o mercado editorial como poucos, líder atuante na guilda de autores nos EUA, mudou-se então para a Grand Central, uma das megas editoras americanas mais agressivas em sua linha comercial. “Já que só me veem como autor de thriller, então vamos vender de verdade”, parece ter pensado Turow.
Pois é da publicação na Grand Central que finalmente a crítica percebe o valor da ficção de Turow, com seus protagonistas psicologicamente densos em tramas incrivelmente originais e verdadeiras. O Times, aliás, defende que sua comparação com Roth e Below não tem nada de exagero: as caracterizações do velho e conhecido personagem de obras anteriores, o advogado de defesa Sandy Stern, que retorna octogenário em THE LAST TRIAL, assim como de seu doppelganger e antagonista, chegam à perfeição, enquanto os entrechos de Turow são infinitamente mais arrebatadores do que dos dois outros monstros sagrados da literatura americana _ afirma o jornal britânico.
Para nós, quem mudou foi a crítica anglo-saxônica, hoje muito mais aberta e desprendida de paradigmas acadêmicos, do que o desempennho literário de Turow, que sempre impressionou o bom leitor. A lição que fica é que o autor pode ser mais ou menos ativo na busca de fortes estratégias de marketing, mas jamais descuidar da qualidade de sua narrativa.