LÚCIO, LÚCIDA MENTE

O escritor e tradutor Edgar Garbelotto, autor do romance inédito TERRA INCÓGNITA, oferece ao blog dois trechos que sublinhou na página 368 de sua edição dos “Diários” de Lúcio Cardoso (Civilização Brasileira, 2012). Para Edgar, “essa entrada no diário de Lúcio em 1951, às vésperas de o autor completar 40 anos, é apenas um exemplo da riqueza temática e imensidão imaginativa de um dos maiores escritores brasileiros. Nos ‘Diários’ completos, que abrangem duas décadas e compõem mais de 700 páginas, seguimos a mente de um escritor genial, atormentado por questões existenciais, artísticas, e o constante conflito entre sua bagagem cristã e sua homossexualidade no Brasil extremamente homofóbico dos anos 40 e 50. Uma obra fantástica para ser devorada aos poucos e por muito tempo.”

“Acredito que o problema agora não é propriamente mudar de vida — mas encontrar um equilíbrio que ainda não tinha tido, coordenando os elementos que me são necessários. Pois é inútil tentar experiências radicais: volto sempre ao ponto antigo e, assim, é melhor equilibrar o antigo, do que viver um novo desequilíbrio.”

“Nem a vida e nem a morte se unem, nem uma é prolongamento da outra, nem são partes dependentes; enquanto seres materiais realizamos o que se chama viver, e que é um todo completo, fechado. Mortos, quer dizer invisíveis, ausentes, realizamos outro todo, também independente, fechado em si — e que talvez seja matéria, verdade concreta, num espaço que não conhecemos. E que começa no instante exato da nossa morte.”