FICÇÃO DO SENEGAL NO CENTRO DO MAPA LITERÁRIO

Miguel Sader

Na semana passada, esta coluna falou da autora austríaca Eva Menasse, que vem causando alvoroço na Alemanha com o lançamento de DUNKELBLUM. Hoje, cruzamos a fronteira para a França a fim de desvendar um novo fenômeno literário. Aos 31 anos, o senegalês Mohamed Mbougar Sarr acaba de lançar o seu quarto romance, LA PLUS SECRÈTE MÉMOIRE DES HOMMES, “A memória mais secreta dos homens”, e já é considerado uma das vozes mais proeminentes da literatura francófona contemporânea.

Com uma prosa metalinguística, o livro conta a trajetória de um escritor senegalês que descobre um misterioso livro publicado na França no início do século XX. Em sua busca pelo significado daquela história, ele atravessa tragédias como o Holocausto e o massacre colonial na África. Uma narrativa potente, à la “Os detetives selvagens”, de Roberto Bolaño, sobre a escolha do protagonista entre viver e escrever, com uma forte mensagem emancipatória decolonial e antirracista.

Os livros de Sarr, que vive na França, são publicados pela parisiense Philippe Rey em parceria com a Jimsaan, de seu país natal, sempre com muito sucesso. Concorrer aos principais prêmios literários do país tornou-se algo comum para ele. A MEMÓRIA MAIS SECRETA venceu recentemente o Prix Transfuge na categoria de Melhor Romance em Francês e está entre os finalistas do Prix Littéraire Le Monde. Os títulos anteriores do autor também acumulam premiações. TERRE CEINTE (2015) levou o Prix Ahmadou-Kourouma e o Grand Prix du Roman Métis, e SILENCE DU CHOEUR (2017) foi vencedor do Prix Littérature Mondial – Étonnants Voyageurs.

A rápida ascensão dos primeiros dois títulos chamou a atenção inclusive do mercado brasileiro. A Editora Malê, especializada em literatura preta, contratou DE PURS HOMMES (2018), Homens Puros, no ano passado. Mais notícias sobre o lançamento no Brasil em breve.

São números impressionantes para um autor tão jovem. Mantendo-se essa qualidade literária e o bom desempenho de crítica e público, é certo que em breve veremos Mohamed Mbougar Sarr como um clássico da literatura francófona e africana.