Maria José Silveira é autora de MARIA ALTAMIRA, A MÃE DA MÃE DE SUA MÃE E SUAS FILHAS, pelo qual recebeu o Prêmio Revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte.
VB&M: Como o isolamento tem influenciado seu processo de criação?
MJS: Para quem escreve, algum tipo de isolamento é sempre bem-vindo, mas não como este que estamos sofrendo. A espada de Dâmocles sobre nossa cabeça dificulta tremendamente o processo de criação. Tanto pela pandemia em si (o que de longe já bastaria) como pelo desgoverno que nos acomete todo santo dia. Nesta situação de angústia e desespero vivida pelo país, como escrever? Sobre o que escrever?
Resolvi, então, sair pela tangente: trabalhar em textos que ainda não foram publicados. Cortar, acrescentar, burilar. É uma parte muito prazerosa da escrita: o “copião” do livro já está lá, a estrutura montada, ninguém vai fugir. A questão passa a ser o detalhe do parágrafo, da frase, da palavra, um momento que exige menos que a concentração exclusiva da criação inicial de algo novo.
De textos novos, tenho escrito apenas pequenos fragmentos do meu cotidiano de confinamento. Publico-os no meu blog, “Invenções Verdadeiras”, e quinzenalmente faço um pequeno resumo em forma de crônica para o jornal goiano O Popular.
VB&M: Quais os maiores aprendizados e desafios deste período?
MJS: Aprendizados, francamente, não sei quais seriam. Medos, angústias, sofrimentos, misérias humanas não são bons professores para os alunos relapsos que somos. Mas creio que o maior desafio seria exatamente este: procurar entender um pouco mais do mundo, dos motivos reais pelos quais chegamos aqui, em pleno século XXI, dessa maneira tremenda como chegamos. Embora impotentes, longe das ruas e dentro de nossas casas, os pensamentos são livres e, se calhar, poderosos.
VB&M: Que mudanças você espera ver no pós pandemia? O que veio pra ficar e o que será deixado para trás?
MJS: Sou bastante cética e espero muito pouco. Se vier um crescimento da conscientização dos perigos que a destruição do nosso meio ambiente acarreta, já me dou por satisfeita. Não vejo como o medo – que, com certeza, ficará conosco por muito tempo – possa nos ajudar em outra coisa. Em geral, sou uma pessoa otimista, mas quanto a isso, não. A mudança necessária do mundo em vivemos exige muito mais do que nossas melhores intenções e desejos.