AS MÚLTIPLAS REALIDADES DE RIZWAN VIRK

Engenheiro de computação formado por MIT e Stanford, escritor publicado pela Columbia University Press e pela Watkins, empreendedor, investidor e editor, o multi-intelectual americano Rizwan Virk Conversa Com (A) Gente sobre a origem de seu best seller A HIPÓTESE DA SIMULAÇÃO, a sair no Brasil em breve pela Citadel. Autor de diversa obra não-ficcional, que abrange do universo gamer e empreendedorismo ao zen-budismo, Rizwan conta como divide seu tempo entre as inúmeras ocupações e qual delas lhe dá mais prazer – a escrita; discorre sobre o impacto da cultura dos jogos nas novas gerações e compartilha suas referências literárias, desde ficção científica e fantasia a livros de negócios.

VB&M: Quando lhe ocorreu o insight de que a vida humana como a conhecemos poderia ser uma realidade simulada?

RV: Embora eu tivesse interesse no tema desde muito tempo, foi um incidente específico que me fez pensar mais seriamente sobre o assunto. Após ter vendido minha última empresa, experimentei um jogo de ping-pong em realidade virtual e por um momento me esqueci de que estava na RV e pensei que me encontrava jogando de verdade. Minha mente foi enganada (mesmo que por um instante) e então comecei a imaginar quanto tempo levaríamos para construir algo totalmente imersivo, como a matrix.

VB&M: Poderia nos contar sobre sua Hipótese da Simulação em um ou dois parágrafos para esta entrevista?

RV: A Hipótese da Simulação é a ideia de que tudo que vemos no mundo ao nosso redor é parte de uma simulação computadorizada muito sofisticada, um vídeo-game como o que é mostrado em Matrix. Há duas variações da Hipótese da Simulação – a que eu gosto de chamar de versão NPC (non-player character, ou personagem não-jogável), em que todos somos uma inteligência artificial no jogo, e a versão RPG (Role Playing Game, ou jogo de interpretação de papéis), em que existimos fora da simulação e jogamos como personagens e avatares dentro do jogo.

O ponto da simulação perfeito é aquele em que poderemos criar simulações tão realistas que se comprovarão indistinguíveis da realidade. Se conseguirmos chegar a esse ponto, então, como apontou o professor de Oxford Nick Bostrom, entre outros, será fácil criar muitas, muitas simulações, o que torna mais provável que já estejamos dentro de uma simulação.

Quando pesquisei sobre mecânica e física quântica, a natureza da realidade se mostrou um verdadeiro mistério, e tudo aparenta ser feito de informação e renderizado conforme necessário para o jogo em andamento. E, ao olhar para as religiões ao redor do mundo, todas nos dizem que o mundo físico não é o mundo real.

VB&M: Quando você se tornou um gamer?

RV: Quando criança, eu jogava os jogos do Atari.

VB&M: Quais as contribuições que a cultura dos jogos ofereceu para as gerações desde os anos 1980?

RV: Os vídeo-games se tornaram uma nova forma de socialização para as gerações mais jovens – enquanto eu costumava encontrar meus amigos no parque, a geração atual se encontra online no Fortnite ou em outros ambientes virtuais. Isso significa que a nova geração não é de apenas nativos digitais, como também de jogadores nativos, em que ser um avatar em um jogo não é algo estranho.

VB&M: Como você divide seu tempo para realizar tantas atividades – como escritor, investidor e empreendedor, professor, jogador, produtor e editor?

RV: Não é fácil! Depende do meu foco no momento. Não crio mais empresas como empreendedor, apenas ajudo outros a criarem as suas próprias como um mentor, conselheiro ou investidor, o que torna tudo mais fácil. Meus interesses acadêmicos estão na mesma linha dos meus interesses como escritor, então, ultimamente, tudo tem sido sobre vídeo-games, o metaverso e a simulação – o que também facilita. Publicar é sempre um desafio, e o jeito é se dedicar completamente a todas as tarefas necessárias para botar um livro no mundo.

VB&M: Qual dessas atividades lhe dá mais prazer e satisfação?

RV: Escrever é o que mais me satisfaz; também gosto de aconselhar outros empreendedores.

VB&M: Entre todos os temas presentes na sua obra, qual é o mais importante e qual deles conecta todas as abordagens que você usa – desde o misticismo à cultura dos jogos?

RV: É o fato de todos nós termos jornadas e metas para alcançar nesta vida, e que o que vemos não é a totalidade do que está realmente acontecendo.

VB&M: Quais são os livros que o formaram como multi-intelectual?

RV: Muitos livros diferentes já me impactaram, desde “O Senhor dos Anéis” à trilogia “Terramar” e os livros de Arthur C. Clarke como “2001”, “2010”, entre outros. Nos negócios, os livros sobre startups sempre me interessaram, incluindo “The E-Myth” e histórias sobre a revolução dos computadores, assim como livros sobre investimento como “Magos do Mercado” e o clássico do mercado de ações, “How I made $2.000.000 in the Stock Market”. Na ciência, gostei de muitos títulos, inclusive da obra de Fred Alan Wolf. No âmbito espiritual, o livro de Yogananda, “Autobiografia de um Yogi”, os livros de Carlos Castaneda e “O Caminho de um Guerreiro Pacífico”, todos me impactaram.