Miguel Sader
Saiu na coluna de Ancelmo Gois, no sábado, a notícia do lançamento LÁ FORA de um livro de fundamental importância política: DRUMS IN THE DISTANCE: Journeys into the global far right (“Tambores à distância: uma excursão à extrema direita global”, em tradução livre), iluminadora reportagem do jornalista britânico Joe Mulhall. O livro, que trata do avanço da extrema direita no mundo todo, será publicado no Reino Unido em julho pela Icon Books. VB&M representa os direitos de tradução no Brasil e em Portugal em nome da agente Andrea Joyce.
O livro parte de uma pergunta simples porém de resposta extremamente complexa: por que o ódio se tornou uma tendência global? Para respondê-la, Mulhall, que além de jornalista é coordenador da ONG Hope Not Hate, passou dez anos infiltrado em grupos políticos de orientação fascista na Europa, nos Estados Unidos, na Índia e no Brasil. DRUMS IN THE DISTANCE dedica 20 páginas à extrema direita brasileira no capítulo intitulado “O Brasil de Bolsonaro, a pandemia global e as mudanças climáticas”.
Apesar de assunto bastante presente em fóruns de todos os tipos desde a eleição de Donald Trump nos EUA em 2016, a articulação internacional da extrema direita jamais teve um exposé tão profundo e detalhado quanto TAMBORES À DISTÂNCIA. Mulhall mostra como a ascensão quase simultânea de vários políticos conservadores não é uma coincidência. Não se trata de meras consequências locais dos conflitos comuns à crise do capitalismo tardio em diferentes países.
Há neste momento, em contexto global, um movimento de disseminação de ideias muito mais organizado do que se gostaria de acreditar. Mecanismos de articulação entre grupos nacionais de extrema direita garantem homogeneidade nos discursos e nas pautas. A instrumentalização da crise climática, a corrente anti-vacina e até mesmo relações inusitadas entre espiritualidade e neofascismo também estão entre os tópicos abordados no livro-reportagem. Tão assustador quanto urgente, TAMBORES À DISTÂNCIA se apresenta como leitura fundamental para entender como chegamos aonde estamos e como podemos sair daqui visando a um mundo mais tolerante, igualitário e sincero.