A POESIA SEGUNDO SALINAS

Poeta e advogado, Lúcio Autran comenta a Frase Sublinhada de Pedro Salinas citada em “Estrutura da Lírica Moderna” (Duas Cidades, 1978), de Hugo Friedrich: “Curioso como numa só frase Salinas sintetizou o que penso sobre a poesia. Do ponto de vista do leitor, do autor e da própria poesia.

Do leitor, pois quando um poema é publicado, ou qualquer obra literária, ele se liberta do autor, que tem sua importância diminuída, quando não apagada. O que ele pensou, ou cotidianamente pensava, sentiu, leu para escrever e viver não tem importância, salvo para os biógrafos e estudiosos daquele autor, para o leitor em geral ele deve desaparecer de cena e deixar a ribalta para a obra. Hoje, infelizmente, damos importância desmedida ao autor, o que pensou e fez, isso é, a meu ver, um equívoco, pois se a obra (eventualmente) engrandece seu autor, seu cotidiano o amesquinha.

Do ponto de vista do autor, pelos mesmos motivos, ele se torna apenas um leitor de si mesmo, as leituras que fazem do poema fogem ao seu controle, e isto é ótimo. Acrescentaria que, ‘para o autor, um poema jamais termina, é abandonado’, creio que foi Jorge Guillén que escreveu, talvez por isso raramente releio o que publiquei, sempre me dá uma enorme e saudável sensação de impotência e frustração.

‘No silêncio’ … quando li, entendi o que intuitivamente dizia: ‘a poesia é para ser lida no escuro’.”

“Quando uma poesia está escrita, está concluída, é certo, mas não encerrada; busca outra poesia em si mesma, no autor, no leitor, no silêncio”.